Uma colheita do que de melhor se faz na net, também com produção caseira

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Meia-final do Campeonato da Europa de Horseball Feminino 2010, entre Portugal e Inglaterra. Vitória para Portugal no prolongamento por golo de ouro, após uma recuperação notável.

E por falar em Horseball, já gostam do Horseball Portugal no Facebook? 🙂

Euro 2010, o desembarque na Normandia

A viagem começou bem cedo. Eram quatro da manhã de sábado, 7 de Agosto, quando eu, jogadoras e restante comitiva começámos a chegar ao Centro Hípico da Quinta da Beloura. A saída para Saint-Lô, na Normandia, em França, estava marcada para as seis da manhã. Era hora de dar a última refeição em solo português às oito montadas e de carregar todo o material no camião que as levaria ao local do Campeonato da Europa de Horseball Feminino. E digo “todo” porque era mesmo muito. Três armários enormes, ração para mais de uma semana, feno, caixas com equipamentos de jogadores e montadas para quatro jogos. Até decorações levámos, como fitas com bandeiras portuguesas. Uma operação de logística onde não convém haver falhas.

Depois do material, foi a vez de embarcar os cavalos. Oito, tal como as jogadoras que integraram esta selecção. Tudo correu bem e o camião partiu pouco depois rumo a França. Quanto à comitiva, ainda era cedo mas a fome apertava e decidimos ir tomar o pequeno-almoço. Ainda bem que a Rosa Doce, em Lisboa, abre cedo. Há algo melhor que um croissant da Rosa Doce, com queijo, e um galão escuro para iniciar uma longa viagem? 🙂

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Após o pequeno-almoço as duas carrinhas fizeram-se à estrada, rumo a Dax, no sul de França, local onde os cavalos iriam passar a noite. O nosso ritmo era bastante superior ao do camião, não só pela velocidade mas também pelo número de paragens que este tem que fazer para dar água, feno e cenouras aos cavalos.

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Decidimos sair da auto-estrada espanhola e ir procurar um local para almoçar. E ainda deu para passar numa Media Markt para comprar um leitor de cartões USB, algo que andava para fazer há algum tempo mas ainda não tinha encontrado o leitor certo.

Na entrada em França cruzámos-nos com vários camionistas portugueses. Era hora de puxar um pouco pelas cores nacionais, ajudados pelo muito trânsito na zona das portagens. De repente vários camiões portugueses começam a apitar – os camionistas começaram a falar entre eles pelo rádio – e os automobilistas franceses ficaram um pouco à nora!

Pouco depois chegávamos a Dax. Procurar um sítio para jantar – o que nem sempre é fácil – e ficar à espera do camião, que chegou por volta da meia-noite local. Tratar dos cavalos, pô-los a descansar para depois tentarmos dormir um pouco. Literalmente pouco, que com o nascer do dia era altura de rumar a Saint-Lô.

Domingo, 8 de Agosto. Saímos para Saint-Lô. Mais uma vez podíamos fazer uma viagem descansada. Para ajudar, o TomTom de uma das carrinhas decidiu levar-nos pela rota mais longa, o que só descobrimos tarde demais. Nada de grave. Apenas perdemos a sesta que tínhamos programado fazer no hotel enquanto o camião não chegasse. Com o desvio acabámos por chegar apenas meia-hora antes dos cavalos.

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Se durante o dia de sábado e grande parte de domingo a viagem tinha sido calma – pelo menos na minha carrinha -, com a maioria das jogadoras a aproveitar para dormir, na aproximação a Saint-Lô a história foi outra. A excitação de chegar ao local do Campeonato da Europa tomou conta das jogadoras e o resultado não é agradável para os ouvidos.

 

Chegados ao Normandie Horse Show, tratámos de encontrar as boxes onde os nossos cavalos iriam ficar, para pouco depois chegar o camião e iniciarmos a última parte da viagem: o desembarque. Tudo correu sem problemas e enquanto as jogadoras tratavam dos seus cavalos, eu e os restantes membros da comitiva íamos tratando do material e da decoração e personalização das boxes.

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Com tudo pronto, rumámos ao hotel e descobrimos o restaurante meio-francês, meio-italiano mesmo em frente. Acessível e de boa qualidade, serviu de base para várias das nossas refeições. O dia estava terminado e o banho no hotel parecia um spa…

Segunda-feira, 9 de Agosto. O “inauguration day”. Um pequeno cocktail com apresentação das seis equipas participantes: Portugal, Espanha, Bélgica, França, Inglaterra e a estreante Holanda. Para nós foi também dia de fazermos algum trabalho com os cavalos, onde se incluiu um pequeno treino com bola de adaptação ao campo de jogo. Fomos a única selecção a realizar um treino com bola. Talvez os outros quisessem esconder o jogo…

Terça-feira, 10 de Agosto. Dia de arranque do europeu para quatro equipas. Nós e a Inglaterra apenas iríamos jogar na quarta-feira. No nosso grupo, Espanha e Bélgica entravam em campo. A Espanha que, segundo os comentários que me tinham chegado, acreditava na conquista do título. E a Bélgica que é sempre uma incógnita, pois pouco ouvimos falar deles fora dos europeus. Um jogo muito disputado, empatado ao intervalo – se a memória não me atraiçoa – e que a Espanha conseguiu vencer com mérito mas também com alguma dificuldade. No grupo B, a França não teve nenhuma dificuldade para derrotar a Holanda, apesar de lhes ter “dado” a primeira parte. As francesas entraram muito calmas no jogo e deixaram as jogadoras holandesas fazer alguns ataques, mas na segunda parte só deu França e o jogo acabou com 11-2 para a equipa da casa. Quanto a Portugal, mais um dia de trabalho para as jogadoras e cavalos. E para mim, que tinha o jogo do dia seguinte para preparar.

Quarta-feira, 11 de Agosto. Chegou o dia por que todos esperavam. A nossa estreia neste europeu e logo contra a Espanha. A estratégia estava definida. Na inspecção veterinária não houve problemas, o que se repetiu todos os dias. E com os oito cavalos em boas condições, tive de escolher as seis jogadoras para o primeiro encontro: Maria, Ana, Catarina, Tânia, Marta e Joana G. foram as escolhidas para defrontar as jogadoras espanholas. Um jogo onde não jogámos bem, onde cometemos muitos erros, mas em que a nossa garra fez a diferença. Ganhámos 6-5, com um golo no último segundo de jogo. A nossa festa contrastava com o desapontamento espanhol. No outro jogo, a França cilindrava a Inglaterra por 11-3. O nosso trabalho estava feito e antes de jantarmos ainda tínhamos os cavalos para cuidar.

Todos os cuidados são poucos durante um europeu. Argila e ligaduras nos membros, gelo, tudo para diminuir a acumulação de líquidos, inchaços e cansaço muscular. São verdadeiros atletas de alta competição. Amanhã há outro jogo importante, que nos pode dar a vitória no grupo.

Quinta-feira, 12 de Agosto. A Espanha liderava o grupo com quatro pontos, fruto do sistema de pontuação arcaico das regras internacionais: três pontos por vitória, dois por empate e… um por derrota. A lógica por detrás deste sistema é penalizar equipas que não compareçam aos jogos, algo que fazia sentido no início do desporto. Hoje, um sistema de um ponto por empate e zero por derrota, como no futebol, faz mais sentido e é o que usamos em Portugal. Só que no Europeu as regras são as internacionais. Em todo o caso estávamos empatados com a Espanha. Só tínhamos que entrar em campo para ter os mesmos pontos deles. Um empate frente à Bélgica já chegava para ganharmos o grupo, mas queríamos mais.

Analisámos o nosso jogo do dia anterior e identificámos as áreas a corrigir. O adversário do dia também foi avaliado e, com a lição estudada, fomos para o jogo. Para este dia decidi manter a equipa base, trocando apenas uma jogadora. Saiu a Joana G. e entrou a Natália. Quanto ao jogo, domínio desde o seu início com a nossa superioridade a nunca ser contestada. Resultado final de 9-3 e a passagem à meia-final onde iríamos defrontar a Inglaterra, que tinha assegurado o segundo lugar do seu grupo atrás da França, depois de vencer a Holanda por 11-2. Sabíamos que tínhamos jogado bem e isso permitiu que descontraíssemos um pouco…

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Sexta-feira, 13 de Agosto. O dia do tudo ou nada. Dia de azar para alguns. Dia de aniversário do Frederico, o chefe de equipa da selecção portuguesa. Preparámos este jogo com maior cuidado. Uma vitória dava-nos o acesso à final e a um lugar assegurado no pódio, algo que Portugal nunca tinha conseguido no horseball feminino. As bancadas estavam mais preenchidas do que nos outros dias. Nova troca na equipa, com a saída da Natália e a entrada da Joana G. Mais uma vez entrámos fortes no jogo. Bem defensivamente, apesar de ter sido a Inglaterra a primeira a marcar. Não conseguimos ganhar a nossa touche, mas pouco depois recuperámos a bola. E foi aqui que tudo se começou a desmoronar. Não tivemos cabeça para procurar o golo e à primeira (má) oportunidade rematámos. E falhámos. As inglesas aproveitaram e aumentaram a vantagem, o que nos desconcentrou ainda mais. Chegámos ao final da primeira parte a perder por 4-0. Nada bom.

Estávamos confiantes em dar a volta ao resultado, mas o início da segunda-parte veio piorar as coisas. Continuávamos demasiado nervosos em campo e a Inglaterra aproveitou novamente, chegando ao 6-0. Faltavam pouco mais de cinco minutos para o final da partida. Precisávamos de ter a bola em nosso poder e de não desperdiçar muito tempo na procura do golo. Voltámos a errar algumas vezes, mas conseguimos recuperar a posse de bola, até que o golo chegou. Imediatamente pedi o nosso desconto de tempo. “Vamos com tudo!” As inglesas mantinham-se fortes na touche e ganharam a posse de bola, mas ao entrarem em contacto com a nossa defesa deixaram-na cair. A Tânia recuperou-a – esteve irrepreensível na ramassage – e lançámos o ataque, concluído com um remate da Maria antes da defesa inglesa – algo que se tinha falado antes. Dois golos em menos de um minuto que nos fizeram acreditar. Nas bancadas ouvia-se “Portugal Olé!”. Touche para Inglaterra, mas a bola é roubada das mãos da jogadora inglesa pela Ana. Lançamos um ataque rápido. A bola cai mas é rapidamente recuperada, novamente pela Ana, que depois de uma reorganização atacante vê uma linha para a baliza e marca o nosso terceiro golo.

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Os ingleses acusavam a pressão e pediam desconto de tempo. Faltavam 3 minutos e 48 segundos para jogar. A pausa não acalmou os nervos ingleses, com a jogadora da primeira linha da touche a arrancar antes do apito do árbitro e a dar-nos a posse de bola. Penalidade para Portugal, no local ideal para uma jogada estudada e que resultou em golo. Marcador em 6-4 para Inglaterra. Em menos de dois minutos tínhamos marcado quatro golos. A passagem à final tornava-se cada vez mais possível. Outra touche e desta vez as inglesas recuperam a bola. Procuram o golo mas a defesa portuguesa não dá espaços. Até que decidem jogar com o cronómetro e parar o jogo. Das bancadas vêm muitos assobios. A garra portuguesa tinha contagiado o público. Pressionadas, as inglesas disparam para a nossa baliza mas não conseguem passar e, quando vinham atrás, um puxão leva o árbitro a assinalar uma penalidade a seu favor. Os ingleses pedem novo desconto de tempo mas só têm um por parte. No banco português todos chamamos a atenção do árbitro. Maria, a capitã, reforça os avisos. E ainda bem que o fizemos. Falta técnica inglesa e posse de bola para Portugal.

Da penalidade resulta o nosso quinto golo. Só faltava um, mas o cronómetro não pára e aproxima-se rapidamente do zero. A touche das inglesas é tendenciosa e cabe a Portugal o lançamento. Revendo o vídeo, parece que alguém escreveu o guião deste jogo. A bola é lançada para a nossa segunda linha, que estava isolada. Mas o lançamento sai fraco. A jogadora inglesa tenta agarrar a bola mas não consegue e esta ressalta para trás, para as mãos da Marta. Saímos rápidos para o ataque, mas a bola cai. Recuperamos. As inglesas caem quase todas em cima das nossas jogadoras. A Tânia vê uma hipótese de ir para a baliza mas faltava um passe e, avisada pelas outras jogadoras, não remata. O cronómetro está quase a zeros. Tânia para a Marta, Marta para a Ana e Ana novamente para Tânia, que encontra nova linha para a baliza e não desperdiça a oportunidade. É o empate, a poucos segundos do final do tempo regulamentar.

O jogo vai ser decidido em golo de ouro, num prolongamento de cinco minutos iniciado com um lançamento entre dois. As inglesas são fortes neste capítulo. Posse de bola para Inglaterra. A pressão defensiva das jogadoras portuguesas é imediata e as inglesas quase que são obrigadas a lançar o ataque. Ainda é assinalada uma penalidade a meio-campo para Inglaterra. Novo ataque inglês e um remate que vai ao aro, acabando nas mãos da Maria. Portugal pára o jogo, mas assim que tem espaço lança um contra-ataque, com a bola a passar pela Ana e Marta, que arrisca ir para a baliza, passa por toda a defensiva inglesa e marca o golo da vitória portuguesa.

Não consigo descrever o que senti naquele momento. É um jogo que vai ficar na história e só quem lá esteve sabe o que sentimos. Risos, lágrimas, abraços e beijos. A festa foi nossa e Portugal estava na sua primeira final de um europeu feminino. O adversário seria a França, que derrotou a Espanha por 9-6.

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Sábado, 14 de Agosto. O dia da grande final. Estávamos tranquilos. Tínhamos conseguido superar o nosso objectivo para este europeu. Queríamos estar no pódio. Conseguimos, no mínimo, um segundo lugar. A descompressão era evidente, fruto do resultado do jogo do dia anterior. Ao pequeno-almoço, eram as francesas quem acusava a pressão. Algumas, as mais jovens, nem acabaram o pequeno-almoço quando nós entrámos na sala. A responsabilidade era delas. Nós já tínhamos o europeu feito. Apesar de tranquilos, preparámos o jogo com todo o rigor. Sabíamos que a vitória seria muito difícil, mas não se entra num jogo para perder. Antes do jogo ainda participámos numa apresentação dos finalistas, no palco principal do Normandie Horse Show. Uma honra para nós.

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O primeiro jogo do dia foi para disputa do quinto lugar, entre Bélgica e Holanda, com vantagem para a formação belga, mais experiente. No jogo de terceiro e quarto lugares, a Espanha não deu hipóteses à Inglaterra. Restava o nosso jogo.

Duas trocas no seis escolhido. Saíram a Catarina e a Joana G., para entrarem a Natália e a Joana P. Para a Joana, a nossa jogadora mais jovem e que está a fazer o seu primeiro ano nos séniores, foi a oportunidade de jogar no europeu. Como ela própria o descreveu, foi uma “experiência enriquecedora e, neste dia, assustadora”.

O ambiente estava fantástico. Cerca de quatro mil pessoas. Música, luzes. Um verdadeiro estádio. Tocam os hinos. Primeiro A Portuguesa, cantada por jogadores, comitiva e público português. Depois A Marselhesa. As jogadoras são apresentadas e começa o período de aquecimento. Todas as luzes do recinto são ligadas e está tudo a postos para o início da final do Campeonato da Europa Feminino. Ramassage inicial para França que lança um ataque rápido, mas Portugal não treme. As francesas são forçadas a reorganizar o ataque repetidamente, até que os nervos não aguentam e fazem um remate sob a pressão da nossa defesa. Bola fora e penalidade para Portugal. E no seu primeiro ataque, Portugal marca o primeiro golo. A França volta ao ataque, mas Portugal mantém-se forte na defesa e volta a ter posse de bola, só que desta vez perde-a. Parece-me que houve um penalti não assinalado e, na resposta francesa, há um dado à França que me parece forçado. Mas é o jogo. Errámos e a França aproveitou para igualar. Voltamos a ter posse de bola, mas desta vez a pressão faz-se sentir nas nossas jogadoras e a França não desperdiça e volta a marcar. E a marcar. Ao intervalo, 5-1 no marcador.

A final está praticamente perdida. Recuperar seis golos em cinco minutos não é fácil, mas quatro frente à França, em dez minutos, parece uma tarefa ainda pior. O objectivo é aproveitar o que resta do jogo, mostrar as capacidades da nossa selecção e recuperar no marcador. A bola sai de Portugal e a segunda parte tem uma história totalmente diferente.

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A nossa selecção domina os derradeiros dez minutos de jogo, pressionando a defensiva francesa e não dando grandes espaços ao seu ataque. O último golo é de Portugal, após um penalti assinalado mesmo sobre o final do jogo. Vitória francesa por 8-5, com Portugal a superiorizar-se à França por 4-2 na segunda parte. A festa é francesa, mas também portuguesa, com as nossas jogadoras a agradecerem o apoio do público, o que deixa algumas jogadoras francesas algo confusas. Ambas as selecções festejam. A França mais um título europeu. Portugal o seu primeiro vice-campeonato num europeu feminino. Um segundo lugar totalmente merecido por estas jogadoras que deixaram o que tinham e não tinham em campo.

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Domingo, 15 de Agosto. O regresso. São 1750 quilómetros até casa, com nova paragem em Dax, para descanso dos cavalos. Tudo é mais fácil quando temos o sentimento de dever cumprido.

A chegada a Portugal deu-se ao início da tarde de segunda-feira. Os cavalos chegaram ao final da tarde. Tudo correu bem na viagem e agora resta-nos aproveitar o resto do Verão para recarregar energias.

Foi um grande europeu. Subimos vários degraus. Colocámos a nossa bandeira no pódio. E mostrámos que Portugal tem uma palavra a dizer no horseball internacional. Aproveito para deixar o meu obrigado a todos os que fizeram parte desta equipa, às jogadoras Maria Porto, Ana Batista, Joana Pais, Catarina Garcia, Tânia Campeão, Natália Simões, Marta Castro e Joana Gaspar, ao Frederico Cannas – o nosso chefe de equipa -, ao José João Campeão – que me deu uma ajuda nos treinos e na preparação dos jogos -, à Dada, Vasco Laranjeira e João van Uden por nos terem acompanhado e ajudado no que foi preciso. Também ao Sr. Zé e Sr. Manuel, que transportaram os nossos cavalos e ainda nos ajudaram durante a estadia em França. E aos familiares que marcaram presença em Saint-Lô e nos ajudaram a estar um pouco mais perto de casa. Este segundo lugar é de todos.

Porque somos uma Zema só!

Vice-Campeões da Europa

Cheguei ontem de França, onde estive uma semana no Campeonato da Europa de Horseball Feminino, como seleccionador nacional. A participação portuguesa foi excelente, alcançando, pela primeira vez, o segundo lugar na competição. Tenho que escrever algo mais sobre este desembarque na Normandia – a competição foi em Saint-Lô – mas primeiro preciso de descansar o Tico e o Teco. 🙂


Foto: ALC Photographies

Rumo ao europeu, etapa de Palência

Eram 2h30 da manhã de sexta-feira 2 de Julho. Verifiquei se tinha posto tudo nas malas e sai de casa rumo à Arruda dos Vinhos, o ponto-de-encontro dos três carros que fariam a viagem de 625Km até Villamartin de Campos, perto de Palência, em Espanha. Dez pessoas – entre mim, jogadoras e pessoal de apoio – e seis cavalos. A hora de saída estava marcada para as quatro da manhã. Saímos 25 minutos mais tarde, o que até nem foi mau. Esperavam-nos sete horas de viagem pela frente.

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O grande inimigo seria a fadiga e o sono. Por isso nada como parar logo na área de serviço de Santarém (com melhor oferta e mais barata que a de Aveiras, segundo uma das pessoas da comitiva). E tenho que lhe dar razão. Um belo croissant aquecido com fiambre e um galão bem escuro. Também houve quem fosse à loja da bomba de combustível comer um rissol e assim, mas gostos não se discutem.

Tomado o pequeno-almoço, fizemos-nos à estrada. Pela A1, A23, Vilar Formoso e A62 em Espanha. Mas antes de Espanha parámos para dar o pequeno-almoço aos cavalos. Água e cenouras, o pequeno-almoço digno de uma top model.

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Terminada a operação, voltámos à estrada, parando apenas para por combustível. A chegada a Villamartin de Campos, nos arredores de Palência, deu-se por volta das 12 horas, confirmando as sete horas de viagem (há que ter em conta a diferença horária entre Portugal e Espanha). Descarregar cavalos, tratar deles e arrumar tudo, para depois rumar ao hotel para um banho e uma curta sesta. Ainda deu para ver o Brasil a ser eliminado do mundial pela Holanda. Ao final da tarde regressámos a Villamartin para um treino leve. Ainda pensámos que íamos apanhar uma valente molha, dada a chuva que teimava em não parar, mas afinal era o sistema de rega do campo. Quando estávamos prontos para rumar ao campo… desligaram a rega. 🙂

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Se por um lado foi bom não apanhar uma molha, por outro a ausência de chuva  fez com que os mosquitos voltassem em força. Para além dos jogos, também fomos a Espanha servir de banquete à mosquitagem! E a mosquitagem estava com fome…

Final do dia com um belo repasto numa pizzaria em Palência. Pena o pesto estar demasiado salgado… bebia qualquer coisa que houvesse na mesa, até a água que ficou de um copo com gelo.

Sábado, 3 de Julho. Era o arranque do Torneio Internacional Feminino de Horseball de Palência. O nome oficial é Copa Ibérica, mas com uma equipa francesa acho melhor chamar-lhe torneio internacional. O nosso jogo teria lugar às 19 horas locais, um horário estratégico para que se possa ver o jogo da Espanha com o Paraguai para o mundial de futebol. O nosso primeiro adversário seria a equipa francesa de Lacanau, que vieram sem os seus cavalos, utilizando cavalos da equipa de Palência. As jogadoras mostraram uma boa técnica e organização, sendo um bom primeiro teste para a selecção portuguesa.

Mas antes ainda fomos à procura de um restaurante com comida típica. À falta de McDonald’s, fomos para o Burguer King. Opção rápida e em conta.

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Ainda deu para fazer umas compras. Águas, bolachas, gomas e… peúgas! Nada como ir tudo de igual para o jogo. 😉

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Durante a tarde ainda voltámos ao hotel para a conversa antes do jogo e para descansar um pouco. Horas de sono a menos não perdoam. Estava tudo pronto para o o meu primeiro jogo à frente da selecção nacional feminina de horseball.

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Quanto ao jogo teve duas partes distintas. Uma primeira parte em que entrámos no jogo demasiado apáticos, com falta de objectividade no ataque e algumas falhas defensivas que não podem acontecer. Ao intervalo estava 2-2 no marcador. Na segunda parte fomos mais equipa e dominámos claramente o jogo, que vencemos por 8-4. Um bom primeiro teste mas com muitas coisas ainda por  melhorar. Isto colocava-nos na final frente à equipa de Palência, que tinha ganho à equipa de Madrid por uns expressivos 10-1. No final do dia aproveitámos para ver o vídeo do jogo e tentar corrigir já algumas coisas para o dia seguinte. Outras só com mais trabalho.

Domingo, 4 de Julho. Acordar cedo para tratar dos cavalos e ter jogo logo a seguir. Estava marcado para as 10h30. O pouco sono dos últimos dias não ajudou, mas tudo correu bem. Até ao início do jogo…

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Entrámos muito fortes defensivamente, logo com um roubo de bola no primeiro ataque adversário. Mas ofensivamente as coisas não saiam. Demasiada apatia e perdas de bola. Falhas ao nível dos passes e remates, às quais se juntaram demasiadas falhas na ramassage e um jogo que poderia ter sido dominado do início ao fim acabou por se tornar complicado. Empate a um golo ao intervalo. Uma segunda parte um pouco melhor deu-nos a vitória por 4-2, mas o sentimento geral era que podíamos ter feito muito mais.

O saldo do torneio é positivo. Serviu para identificar as áreas que necessitam de um maior trabalho. Por um lado, ainda bem que aconteceram os erros. Antes surgirem aqui do que só no campeonato da europa, onde não há grande margem para dar a volta. Agora é analisar estes dois jogos com mais calma e começar a trabalhar para o europeu, que vai ter lugar entre 10 e 14 de Agosto, em França.

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Antes disso ainda tivemos mais 625Km de regresso a casa. Um pouco mais lentos, que o cansaço acumulado era muito. Agora, depois de cinco fins-de-semana de horseball seguidos, vou poder respirar um pouco. Mas não por muito tempo…

Vamos a elas!

Este vai ser o último de uma série de fins-de-semana seguidos inteiramente dedicados ao horseball. Desta vez um torneio feminino internacional em Palência, Espanha. A saída é daqui a pouco, durante a madrugada. A mala já está feita. Acho que não me esqueço de nada. Pelo menos as fitas isoladoras já estão no carro. Já devia ter feito uma check-list para estas saídas.

A chegada ao destino será durante a manhã com o resto do dia para descansar e fazer um mini-treino. Sábado e domingo temos jogos e depois o regresso. Vou tentar vir aqui regularmente para ir fazendo um ponto de situação. Agora, é esperar que elas venham!

Os Lobos

Terminado mais um fim-de-semana de horseball, onde se realizaram as jornadas finais dos Campeonatos Nacionais Challenge (sub-16) e Trophy (2ª divisão sénior), achei que era chegada a altura de escrever um pouco sobre um projecto que arrancou em 2010.

Um projecto de equipa de horseball que arrancou prematuro devido a um conjunto de factores e indecisões que tiveram lugar no final de 2009 e início de 2010, altura em que estava prestes a arrancar a nova temporada. A época de 2010 ficou em risco. Digamos que, no início, a equipa tinha um chefe de equipa, um treinador e uma jogadora sub-16. Felizmente os jogadores, pais e familiares (incluindo tias) com quem tinha trabalhado, durante quase dois anos e meio, apadrinharam este novo projecto e apoiaram-no. Bem como Tiago Barreto, que nos acolheu no seu clube hípico e que procurou, em tempo recorde, dar-nos todas as condições necessárias.

De uma jogadora, passámos a cinco sub-16, quatro deles já com títulos de campeão no bolso. Nos séniores as incertezas eram maiores, mas mesmo assim arriscámos. Fomos ao sorteio dos campeonatos nacionais com duas equipas: ‘Equipa 5’ nos sub-16 e ‘Equipa 4’ na segunda divisão sénior. Não tínhamos nome.

A marca
Nem nome e muito menos cores, logotipo ou sequer equipamentos. Isto quando faltava menos de um mês para o arranque dos campeonatos. Foi uma corrida contra o tempo. Primeiro passo: encontrar um nome para a equipa. Vários estiveram em cima da mesa, mas queríamos ser diferentes. Não queríamos o tradicional ‘horseball daqui e dali’ ou ‘xpto horseball team’. Queríamos um nome com força, com garra. Algo que nos permitisse criar uma marca. Um nome que não deixasse dúvidas. E assim surgiram os Lobos, de nome completo ‘Lobos do Monte da Lua’, já que a equipa está situada no Clube Hípico do Monte da Lua. Próximo passo: logotipo, escolher cores e desenhar equipamentos.

A base para o logotipo era fácil. Um lobo, ou um pormenor. Alguns desenhos, alguns testes, e a imagem frontal de um lobo foi a solução escolhida. Mas a marca é mais do que um símbolo. O lettring também foi alvo de trabalho, com as letras a serem afinadas e personalizadas. O resultado é um logo com potencial, que pode ser utilizado de várias formas sem nunca se perder a identidade da equipa.

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A cor base foi o castanho – uma das cores possíveis para a pelagem de um lobo – conjugado com o laranja e branco. Um esquema cromático simples e de cores quentes. Também importante é a facilidade de encontrar equipamento de passeio/treino, como tshirts, sweat-shirts e polares nestas cores.

Com uma imagem criada, foram desenhados os equipamentos. O principal em castanho bem escuro e o alternativo em laranja. Que os nossos jogadores têm que aparecer em campo com estilo. 🙂 Alguns apontamentos em branco e na cor complementar ajudam a personalizar o equipamento. Outro pormenor, pela primeira vez utilizado num equipamento de horseball em Portugal (não sei se lá fora também), foi a colocação dos números dos jogadores nos ombros.

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Faltava ter os equipamentos a tempo dos primeiros jogos, no fim-de-semana de 13 e 14 de Fevereiro. Era importante a equipa aparecer devidamente equipada e não com umas camisolas ‘para desenrascar’. Para mais no sorteio dos sub-16 calhou-nos um primeiro jogo contra a Quinta de Santo António, o adversário mais difícil. Fica aqui um agradecimento à Casa Senna que não nos deixou ficar mal.

O arranque dos campeonatos
Tivemos apenas três semanas antes dos primeiros jogos. E a chuva constante não nos deixava treinar no picadeiro exterior, ficando limitados a um picadeiro coberto demasiado pequeno para um treino de horseball. Os nossos sub-16 foram para o primeiro jogo – um dos dois jogos mais importantes do campeonato – praticamente sem treinar. Nem uma baliza existia ainda. Entrámos em campo nervosos mas sabendo que tínhamos dois anos de trabalho em conjunto. Apesar dos novos equipamentos, já éramos uma verdadeira equipa. Foi aí que os quatro jogadores – a quinta jogadora só começou mais tarde – foram buscar forças para vencer o jogo. Apenas por um golo (7-6) mas que valeu três pontos muito importantes.

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Nos séniores a coisa estava mais tremida. Cavalos novos que não estavam em forma – e não tivemos tempo suficiente para melhorar – cavalos novos que nunca tinham feito um jogo, jogadores com póneis em vez de cavalos e um jogador que tinha feito dois treinos e teve de fazer parte do quatro base… porque não havia mais. O resultado foi o esperado: derrota por 8-2 com a Quinta de Santo António B.

Participar, jogar e evoluir
Depois das primeiras jornadas houve mais tempo para treinar – assim que a chuva acalmou -, novos jogadores a entrar para o projecto e pormenores importantes como uma casa de arreios exclusiva para a equipa.

No início de Março fomos à Trofa para mais duas jornadas séniores. Quatro cavalos apenas (mas já todos cavalos). Tudo corria bem quando um dos dois atrelados fica parado na A1, perto da Mealhada. Ainda são uns quilómetros valentes. Três da manhã e toca de ir buscar o atrelado e levar os cavalos para o seu destino, onde chegámos pelas sete horas. Tratar dos cavalos e rumar ao hotel para o pequeno-almoço. Dormir é para meninos! Apesar de tudo, um bom jogo no sábado – apesar da derrota – e a primeira vitória no domingo. Balanço positivo do primeiro fim-de-semana fora da zona de Lisboa. Segunda-feira acho que não fiz grande coisa…

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Os sub-16 tiveram mais sorte, apanhando jogos com equipas mais acessíveis, o que permitiu ter fins-de-semana mais descansados. Isto até ao novo jogo com a Quinta de Santo António. Era o tudo ou nada. Uma vitória praticamente assegurava o campeonato. Foi um dos melhores jogos sub-16 vistos em Portugal. Luta do início ao fim. Mudanças na liderança do marcador, remates falhados de parte a parte. Teve de tudo. Mas os meus miúdos foram gigantes. Vitória por 7-4 e sentíamos que o título estava muito  próximo. A confirmação veio três semanas depois, na jornada que disputámos na Ovibeja. Estava conseguido o primeiro campeonato para os Lobos.

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Crescimento e evolução da marca
Durante os campeonatos fomos afinando a marca e aproveitando para a tornar mais forte. Lançámos o site da equipa. Fizemos um flyer de divulgação da Escola de Horseball e estivemos presentes com um stand num fim-de-semana de horseball na Beloura.

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Recta final alucinante para os séniores
As atenções viravam-se agora para os jogos dos séniores. Depois da vitória em Trofa e de um empate com Santo António na Beloura, acreditámos que podíamos alcançar o segundo lugar. Não era o objectivo inicial – esse era participar, melhorar e aprender, sem nos preocuparmos com vitórias – mas passou a ser a meta atingir. E as jornadas na Azambuja foram um ponto de viragem. Jogo frente à equipa da casa, última classificada na altura mas com apenas menos um ponto que nós. Pela primeira vez conseguimos levar cinco jogadores. Ainda com um pónei, mas permitiu-nos rodar a equipa, deixar jogadores e cavalos respirarem, o que é importante. Um belo jogo com um resultado que não deixou dúvidas: 10-1. No domingo o jogo não se previa tão fácil. Novo jogo com Santo António, com quem estávamos empatados na classificação depois dos jogos do dia anterior. Foi um bom jogo, com uma excelente primeira parte nossa (4-0) mas que não teve igual correspondência na segunda parte. Vitória por 8-3, que nos deixava em desvantagem no confronto directo.

Chegámos ao último fim-de-semana do campeonato. O que terminou ontem. Primeiro jogo frente aos líderes e já campeões: o Horseball Clube de Campo B. Queríamos ganhar. Queríamos ser a primeira equipa a quebrar a sua invencibilidade. Não conseguimos. Tivemos menos um cavalo em campo – devido a lesão – que compensámos com um pónei. E que pónei! Fez uma entrada pela direita que deixou a defesa deles colada ao chão! 🙂 Mas não chegou. Perdemos por um e a vitória da Quinta de Santo António perante a Azambuja deixou o segundo lugar por decidir na última jornada.

Partíamos em igualdade pontual, mas Santo António ficava à frente neste cenário. O primeiro jogo foi o deles. Perderam com o Clube de Campo. E assim, no último jogo do campeonato apenas dependíamos de nós para ser vice-campeões. Nervos. Muitos nervos. Mas a certeza de que o trabalho de casa estava feito. Qualquer que fosse o resultado, a participação no campeonato tinha saldo positivo. Mas é diferente quando se ganha. Sabe melhor. Os sorrisos aparecem com maior facilidade. E assim foi. Vitória por dois golos: 7-5. Vice-campeões Trophy no ano de estreia. Três jogadores subidos dos sub-16. Duas jogadoras de 19 anos que nunca tinham feito um campeonato desde que saíram dos sub-16. E um jogador que fez dois treinos e deu tudo para permitir que entrássemos no campeonato com quatro jogadores em campo. Uma medalha de prata que sabe melhor que outras de ouro que já conquistei.

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Dá gosto trabalhar com miúdos deste calibre. Verdadeiros Lobos. Com garra. Só lhes posso agradecer os grandes momentos que já passámos e todos os que ainda teremos juntos. Aos subs Bernardo Barreiros, Ricardo Freitas, Sara Duarte, Mafalda Nascimento e Sofia Marta. E aos séniores Joana Perestrello, Joana Nascimento, Diogo Vaz, Sofia Freitas, Beatriz Santos, Samuel Estevão e Marta Freitas. Vocês são enormes!

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E agora que venha a Taça de Portugal!