Vida de cão
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Ontem à noite estava a passar pelos canais de TV e deparo-me com um documentário sobre o uso do plástico. Deixou-me a pensar e é fácil perceber porquê. Hoje tudo vem em plástico. Como dizia o autor, chegamos a embalar plástico em plástico. Os sacos de supermercado são vistos como descartáveis. Usamos uma vez e deitamos fora. A água, um bem escasso – e a que uma boa parte da população não tem acesso em quantidade e/ou condições de higiene satisfatórias – é embalada em plástico e transportada à volta do mundo. Usamos algo feito a partir de petróleo para transportar água para o outro lado do mundo. É estúpido!
Mas se fosse só a água… doces, produtos de electrónica, talheres, refrigerantes, cartões de crédito, embalagens de comida… até já há fruta embalada em plástico. Mesmo os copos de papel têm uma película plástica. Quantas destas embalagens não vão directamente para o lixo? Quantos sacos – que demoram milhares de anos a se biodegradar – são utilizados apenas uma vez?
E o resultado disto é que grande parte deste plástico acaba no mar, onde não desaparece, mas sim degrada-se até ficar um género de granulado, que é consumido por engano por vários animais. E no processo ainda liberta vários componentes perigosos para todos.
Pelo meio há as boas práticas. Penso que uma referia o sistema alemão, onde existem máquinas que permitem devolver embalagens a troco de vales que podem ser usados nas compras. E no supermercado muitas embalagens de plástico foram reutilizadas. Mesmo as garrafas de Coca-Cola.
O documentário que vi não é este mas vale a pena ver para ter uma ideia do problema.
É recorrente. Uma qualquer informação aparece a correr as redes sociais e de imediato se gera uma histeria colectiva sobre os assaltos com ovos a automobilistas, a bactéria carnívora das bananas ou o adoçante da Cola Zero que foi proibido nos EUA. Os exemplos são às dezenas (centenas… milhares?) e praticamente todas as semanas surge uma potencial ameaça à continuidade da vida na Terra.
Mas a ameaça maior não são os ovos ou os adoçantes. É a falta de sentido crítico. De cruzamento de referências. De parar para pensar um pouco antes de se juntarem à histeria. E estamos a falar de informações que são vistas/lidas no computador. Porra, o Google está ali ao lado!
Vamos a alguns exemplos. Os assaltos com ovos. A informação é mais ou menos esta:
Aviso da PSP com pedido de reencaminhamento
Se de noite te atirarem um ovo contra o parabrisas (o reconhecerás por a cor amarela, já que a clara talvez não a distingas): mantém a calma e acelera; não uses o limpa parabrisas; jamais deites água no parabrisas; acelera e foge, que os ladrões estão por perto. Mas sobretudo não percas os nervos usa o telemóvel, se for necessário.
Explicação: O ovo com água, ao unirse, formam uma substância viscosa como o leite, na qual te vai impedir de ver por onde vás,tapando a visão em cerca de 90% e serás forçado a parar por esse sitio onde circulas ai serás vítima de roubo. Esta é a última modalidade que os ladrões inventaram.
Muito perigoso, certo? Errado! Viremos-nos então para o Google e vamos pesquisar por “mito assalto com ovos”. O primeiro resultado fala logo em “mito”, mas um pouco mais abaixo aparece um vídeo.
Como diriam os caçadores de mitos: busted!
E em relação ao adoçante da Cola Zero? É que isto até chegou ao Correio da Manhã!
Nos EUA, a Coca-cola Zero já é proibida pelo F.D.A. (Food and Drugs Administration). Contudo, o refrigerante ainda se encontra à venda em muitos países.
Proibida nos EUA, hein? Bem, na Amazon arranja-se (http://www.amazon.com/Coke-Zero-pk-oz-cans/dp/B0024NXV1Q). Uma pesquisa sobre “coke zero banned in usa” leva a um artigo sobre uma proibição na Venezuela, o qual revela que o adoçante em causa – e não a Coca-Cola Zero – é proibido nos EUA desde… 1969. E que os EUA estão a pensar levantar a probição como acontece na Europa. Uma pesquisa sobre o “sodium cyclamate” leva a um artigo da Fundação Livestrong.
The ban on cyclamates in the United States came about after publication of a 1967 multigenerational study that started with 70 rats fed cyclamate and saccharine in a 10:1 mixture for two years. The rats were fed doses ranging from 500 mg per kg to 2,500 mg per kg. A 500 mg per kg dose equals approximately 30 soft-drink servings, according to a 2004 article published by lead author M.R. Weihrauch in “Annals of Oncology.” (…) Human studies in countries where cyclamate is still available have not shown any definitive negative effects in cyclamate users, who, of course, are not taking the high doses given to rats.
Não é propriamente sumo de laranja natural, mas fica um pouco longe do drama do Correio da Manhã.
Já a bactéria das bananas é mesmo de meter medo. Um aviso da ASAE, com um nome, morada, telefones… deve ser verdadeiro. Até vem com tradução para inglês. O aviso é qualquer coisas como:
Várias entregas de bananas de Uvongo Kwa-Zulu Natal (África do Sul) foram infectados com fasceíte necrosante, também conhecida como bactéria carnívora. Recentemente esta doença dizimou a população de macacos no litoral sul. Estamos agora começando a aprender que a doença tem sido capaz de enxertar-se à pele de frutas na região, principalmente a banana que é uma das maiores exportações do sul da África. Até esta descoberta os cientistas não tinham certeza de como a infecção estava sendo transmitida. É aconselhável não comprar bananas para as próximas três semanas! Se você tiver comido uma banana nos últimos 2-3 dias e tiver febre seguida por uma infecção da pele procure ajuda médica! A infecção da pele de fasceíte necrotizante é muito dolorosa e come dois a três centímetros de carne por hora. A amputação é provável, a morte é possível… Se você for a um centro médico é aconselhado queimar a carne à frente da área infectada para ajudar a diminuir a propagação da infecção. A FDA tem sido relutante em emitir uma advertência em todo o país por causa do medo de um pânico nacional.
Fasceíte necrosante, hein? Vamos lá parar para pensar um pouco. Se isto vem da ASAE, a página deles deve ter um aviso qualquer? E não é que tem, logo nos destaques que aparecem a rodar no topo. Também podemos usar a caixa de pesquisa e pesquisar por bananas.
No seguimento de uma notícia colocada em circulação na internet relativamente à presença de uma bactéria “carnívora” existente na casca das bananas, informamos os consumidores que a referida notícia é falsa e com uma série de incorreções, nomeadamente, quanto à “presença da bactéria fasceíte necrosante” que efetivamente não é uma bactéria mas sim uma infeção causada por determinadas bactérias. Geralmente a bactéria causadora deste tipo de doença vive no corpo humano, sendo a sua forma usual de transmissão de pessoa para pessoa.
Pronto, já podemos comer bananas sem perder um braço durante a noite. E quem se lembra da Burundanga, a droga da moda?
Atenção é mesmo importante. Pode ser mortal. É muito conveniente estar atento… Procurava um telefone público e encontrei um apenas em frente ao estacionamento de Soriana (Praça de Espanha, Lisboa). Estacionei a alguns metros mais atrás e desci do carro. Entretanto chegou um homem sem uma perna e com muletas. Perguntou-me se podia ajudá-lo a marcar um número, e deu-me o cartão de crédito para a chamada e um papel onde estava anotado o telefone. Com muito prazer para ajudar, peguei no papel e comecei a marcar o número. Então em poucos segundos comecei a sentir que desmaiava. Acontecia algo de anormal, corri para o carro e fechei-me enjoado. Tonto, tentei ligar o carro e afastei-me um pouco, estacionando aí…Depois, não me lembro de mais nada. Mais tarde despertei enjoado, a cabeça estourava-me… consegui chegar até minha casa, seguindo de imediato para o hospital. Após os exames ao sangue, confirmou-se o que já suspeitava. Era a droga que está de moda: a “Burundanga” ou “Escopolamina”.
Este aviso normalmente vem como sendo do Instituto da Droga e da Toxicodependência. Pesquisando no Google damos logo de caras com a página “Burundanga Drug Warning – Urban Legends”. E o que diz?
The story above, circulating since 2008, is almost certainly a fabrication. Two details betray it as such:
1) The victim allegedly received a dose of the drug by simply touching a business card. (All sources agree that burundanga must be inhaled or ingested, or the subject must have prolonged topical contact with it, in order for it to have an effect.)
2) The victim allegedly detected a “strong odor” coming from the drug-laced card. (All sources agree that burundanga is odorless and tasteless.)
Vá, usem telefones públicos à vontade. Quando ficarem sem bateria no telemóvel, provavelmente.
O hino do Cazaquistão fica no ouvido…
Quando se pensa que já se viu tudo na internet, aparece sempre algo que nos faz pensar: porque não pensei nisto? Conheçam então o Dollar Shave Club.
O conceito é simples. Por um valor mensal – desde 1 dólar – recebe-se em casa uma lâmina de barbear. Há três versões: desde a versão básica com apenas duas lâminas, até uma com seis lâminas. Como dizem no anúncio, “Gosta de gastar 20 dólares por mês em lâminas de marca? 19 vão para o Roger Federer.” E por falar em anúncio, vale a pena ver.
É um conceito engraçado e que pode funcionar com o tamanho do mercado americano. E tem o selo do Chairman: bulshit free!