Ontem escrevi no Twitter que, logo após a apresentação do novo iPhone, teríamos pessoas a dizer mal das novidades e a afirmar que iam ser um fracasso.
“Só isto? Ninguém vai comprar!” > daqui a duas horas num tuite perto de si.
Não falhei por muito. Os “mehs” são mais que muitos, apesar do iPhone 4S ser totalmente redesenhado no seu interior. Novo (e muito mais potente) processador, presumivelmente mais memória, nova câmara aparentemente com bastante mais qualidade (e não apenas mais pixeis), capacidade de gravar vídeo HD 1080p, capacidade GSM e CDMA no mesmo aparelho (embora, admito, praticamente irrelevante no nosso mercado), e a fantástica inteligência artificial do novo da nova assistente Siri, capaz de nos compreender em linguagem comum e não apenas com um conjunto de comandos pré-definidos (isso o iPhone já faz, experimentem). Sim, por fora é igual ao iPhone 4, que é apenas o telefone mais vendido, mesmo mais de um ano depois de ter sido apresentado.
Mas estes desânimos perante um lançamento Apple não são algo novo. Muito menos desde a reviravolta da empresa e do lançamento do iMac original em 1998. Na altura foi o primeiro computador a não incluir um leitor de disquetes de 1,44MB e a tornar comum o USB. Que estavam malucos e que ninguém conseguiria viver sem disquetes foi o que se ouviu. O resto da história do iMac é um sucesso sem precedentes nos computadores pessoais. Isto lembra-me que tenho saudades do meu Tangerine.
Em 2001 a Apple apresenta o iPod com uma capacidade de 5GB e um preço acima dos 500 Euros. Que estavam malucos e que ninguém iria pagar 500 Euros para ouvir música. A história diz-nos que foi um sucesso.
Em 2004 foi a vez do iPod mini, que aproveitou o aparecimento de discos ainda mais pequenos. Numa altura em que o iPod tinha cerca de 30GB de capacidade, os 4GB do mini foram alvo de chacota de muitos. Custava pouco menos que o iPod “grande” e esse era o argumento que muitos usaram para afirmar que o mini seria um flop e que ninguém ia comprar. Foi um sucesso.
Em 2007 o alvo de chacota foi o iPhone. Não houve CEO ou responsável de uma empresa de tecnologia e telecomunicações que afirmasse que o iPhone seria um flop. O próprio Steve Ballmer riu-se do iPhone pouco depois deste ter sido apresentado. Mais uma vez o argumento de que ia fracassar foi o preço, já que em 2007 o iPhone não era subsidiado. O sucesso do iPhone já todos sabemos, ou não estaríamos aqui a falar dele.
E em 2008 foi o início da recessão que levou muitos analistas a afirmar que a Apple seria quem mais iria sofrer. Os seus preços, normalmente mais altos que os dos concorrentes, levaria a que os consumidores procurassem alternativas.
Analysts claim the contracting economy is causing changes to the complexion of industry demand that could have further negative implications for the Mac segment. Specifically, the slowdown in consumer spending will cause industry demand to contract, and within the computer industry, demand will shift away from Mac to lower-priced PCs.
E mais uma vez os analistas falharam. Vários fabricantes atravessam uma fase problemática, mas na Apple, como nos mostrou ontem Tim Cook, as vendas de computadores Macintosh crescem seis vezes acima do resto da indústria e um em cada quatro computadores vendidos nos EUA são Macs. Não é preciso ser analista para ver isto. Os Macs estão em todo o lado e já não são apenas um produto de grupos específicos.
Ontem escrevi que não iria comprar o novo iPhone. Isto foi antes de saber as novidades e prende-se com um facto muito simples: tenho um contrato de dois anos com a Vodafone e não vou pagar mais de 500 Euros por um telefone. Para além disso acho que um telefone pode durar perfeitamente dois anos, mesmo com as novidades que são apresentadas durante esse período. Ficarei mais um ano à espera do próximo iPhone e aí deverei trocar. Mas isso não me impede de afirmar que este iPhone 4S é um salto qualitativo face ao modelo anterior e que, mais uma vez, é um telefone que vai de encontro ao que as pessoas querem. E é por isso que vai ser um sucesso. E é por isso que a queda da Apple vai ter de esperar mais um pouco.