Cinco de Dezembro de 2010 vai ficar na memória de três dos meus jogadores. Foi o dia em que fizeram o seu último jogo no escalão sub-16. E não podiam ter terminado de melhor forma. Mais uma vitória e a conquista do terceiro e último troféu da época: o Super Challenge. Do grupo com que comecei a trabalhar em 2007 vai sobrar apenas um jogador. A equipa, como a conheci, como a formei, como a mecanizei, terminou.
O início
A aventura começou em 2007. A equipa era a Penha Longa Cascais Kids. Um projecto iniciado pela Ana Barreiros um ano antes, com Rodrigo Frade e Emma Chatwin como treinadores. Os três jogavam comigo no Cascais Horseball, onde eu também era treinador da Ana e da Emma na equipa feminina. Em Abril (se a memória não me falha) fui convidado para dar um pequeno estágio aos sub-16. Foi a primeira experiência com este escalão e acabou por ser um estágio engraçado. Uns meses mais tarde, o Rodrigo e a Ana perguntaram-me se estava disponível para treinar a equipa, pois o Rodrigo estava de malas feitas para a Irlanda. Aceitei e a “passagem de testemunho” fez-se num estágio de final de Verão. A cara de alguns deles quando lhes disseram que eu ia ser o seu próximo treinador merecia ter sido registada para a posteridade. Isto porque eu tinha fama de ter mau feitio. Boatos… 🙂
Estávamos em Setembro de 2007 e a época aproximava-se do fim. Restava apenas um jogo e logo contra os já campeões nacionais, a equipa do Centro Equestre João Cardiga. Tive cerca de um mês para desenvolver o trabalho que vinha sendo feito pelo Rodrigo e começar a ajustar a equipa à minha imagem. Não foi tempo suficiente mas o jogo serviu para sentir o potencial da equipa, apesar da derrota por 5-3.
Lembro-me de no final da entrega de prémios me virar para a Bia, a minha capitã, e perguntar: “Para o ano ganhamos isto?” A resposta foi imediata. “Ganhamos!” Todos sentimos o potencial.
Depois do jogo foi trabalhar, trabalhar, trabalhar. Em Dezembro organizou-se um jogo treino. A equipa estava diferente, mais confiante. Ganhámos o jogo. A primeira vitória daqueles miúdos e os sorrisos diziam tudo. Para uma jogadora, a Carolina, foi também o seu último jogo como sub-16. Acabou a vencer. 🙂
O primeiro título
O campeonato de 2008 começou em Março e até lá houve tempo para fazermos treinos mais completos. O sorteio ditou que na primeira jornada jogaríamos contra os campeões nacionais, os mesmos contra quem jogámos no final do campeonato anterior. Eles, os campeões nacionais em título. Nós, que nunca tínhamos ganho um jogo oficial. Estas duas frases devem-lhes soar familiares… Depois do jogo escrevi algo que resume bem o espírito desta equipa:
Há duas semanas, no dia do meu aniversário, os meus miúdos prepararam uma mini-festa antes do treino. Recebi um postal assinado por todos, com um texto do qual retive uma frase: “Estamos a uma semana de começar o grande campeonato, aquele em que vamos dar tudo por tudo para mostrar o que valemos!” Este fim-de-semana o campeonato arrancou. Antes do jogo pedi-lhes uma coisa. Que dessem tudo por tudo para mostrar o que valemos. Foi o que fizeram! Foram uma grande Equipa e fizeram um grande jogo. 🙂 Dá gosto ser treinador com miúdos deste calibre!
A partir daí ninguém os parou. Vitória atrás de vitória, sempre com bons jogos. Pelo meio mudámos a imagem da equipa (defeito profissional). Ganhámos uma imagem mais forte e novos equipamentos.
E a época de 2008 culminou nos dois jogos em nossa casa, que nos poderiam assegurar o título. Os nervos eram muitos e isso notou-se no primeiro jogo onde estivemos a perder por 4-1 frente à Academia Vidinha Porto. Mas equipa que é equipa nunca baixa os braços e o resultado final foi de 7-4 a nosso favor. Estava transposto o primeiro obstáculo. No segundo dia tínhamos pela frente novamente os campeões nacionais. Antes de cada jogo dávamos o nosso grito.
O Bernardo gritava “Penha” e todos gritavam “Longa”. Nunca gritámos tão alto e com tanta garra como nesse dia! Acredito que foi ali que ficou definido o vencedor. Jogo irrepreensível e nova vitória por 7-4 que nos garantiu a conquista do primeiro campeonato nacional.
Nos sub-16 cada final de época marca a saída de alguns jogadores. Desta feita foram o Pedro e o Tomás, que se tinham juntado à equipa no final de 2007. Tiveram apenas um ano nos sub-16, mas foram campeões. E ainda tiveram direito a uns cocktails especiais! 🙂
Se para os subs a época estava terminada, para os séniores a coisa ainda mexia. Convidaram-me para jogar a Taça de Portugal pela Academia Horseball e aceitei. Ainda joguei meia-parte no último jogo do campeonato. Vários dos meus jogadores estiveram dentro de campo a ajudar. Soube bem voltar a jogar, mas o melhor momento do dia foi quando cheguei ao carro e olhei para as várias mensagens, iguais, que tinha no telefone:
Lúcio, não esperaste sentado no arreio na touche, ou seja, não te levantaste no momento certo; apoiar mais em cima; passes de peito; passes para a frente e para as mãos do jogador; remate de lado falhado; sempre a agarrar as rédeas (larga o cavalo); não fez bem a dobra na defesa; não apoiou o jogador; bola bem sacada e boa visão de jogo; remate de lado falhado!!! Barroteee! Se fosse de peito! Contra ataque é para andar pra frente, não esperar! Beijinhos dos teus pequeninos!
Enquanto jogava, os “meus pequeninos” estiveram no campo, muito atentos a tudo o que acontecia… e, pelos vistos, a tirar notas! É sinal que ouviam o que lhes dizia e, mais importante, assimilavam a informação! 🙂
O ano da consolidação
Com o núcleo duro da equipa a manter-se, a época de 2009 foi mais fácil em termos de preparação. Mesmo assim o arranque não foi famoso, fruto da chuva intensa que caía desde Janeiro e que nos impedia de treinar em condições. E no primeiro fim-de-semana de jogos, em Março, tínhamos logo pela frente aquele que viria a ser o grande adversário do ano, a Academia Vidinha Porto. Conseguimos a vitória pela margem mínima – 5-4 – e entrámos no campeonato com o pé direito.
Em Maio deu-se o segundo jogo frente a esta equipa, dos quatro que iríamos disputar no campeonato. Uma vitória deixava-nos mais perto do título e assim foi. Desta vez sem margem para dúvidas, com uma vitória por 6-3. E no terceiro jogo, nova vitória, desta vez por 6-4. Depois disso foi cumprir calendário até ao último fim-de-semana de jogos, onde registámos a nossa única não vitória nestes três anos. Um empate a 8 golos frente à Academia Vidinha Porto, num grande jogo.
Estes miúdos, que até 2008 não tinham vencido nenhum jogo oficial, eram agora bi-campeões nacionais!
O ano dos Lobos
O final de 2009 e início de 2010 trouxeram algumas alterações. A estrutura da equipa da Penha Longa deixa de existir. A época de 2010 ficou em risco. Procurou-se criar as condições necessárias para a equipa poder continuar. Nos primeiros dias tínhamos um chefe de equipa, um treinador e uma jogadora sub-16, mas os restantes jogadores, pais e familiares com quem tinha trabalhado, durante quase dois anos e meio, apadrinharam este novo projecto e apoiaram-no. E assim nasceram os Lobos. Da equipa sub-16 de 2008 saíram três jogadoras: a Bia, a Sofia e a Susana. A Bia e a Sofia continuaram nos Lobos mas agora nos séniores, bem como o Diogo que se tinha juntado a nós a meio do ano.
Mais uma vez o mau tempo impediu que treinássemos em condições antes do arranque do campeonato. E o sorteio ditou que o primeiro jogo seria contra a equipa da Quinta de Santo António, a anterior Academia Vidinha Porto. Em 2010 participaram mais equipas no campeonato e por isso tínhamos apenas dois jogos com cada uma, o que aumentava a importância de entrarmos no campeonato com uma vitória. Fomos para o jogo com apenas quatro jogadores. Apesar de um novo nome e novos equipamentos, já éramos uma verdadeira equipa e demonstrámos isso em campo, com um garra tremenda, vencendo o jogo por 7-6.
Foram três pontos muito importantes. Os restantes jogos eram mais fáceis, contra equipas menos experientes, o que permitiu termos fins-de-semana mais descansados. Isto até ao jogo da segunda mão frente a Santo António. Foi o jogo do tudo ou nada. Sobre este jogo também já tinha escrito antes:
“Foi um dos melhores jogos sub-16 vistos em Portugal. Luta do início ao fim. Mudanças na liderança do marcador, remates falhados de parte a parte. Teve de tudo. Mas os meus miúdos foram gigantes. Vitória por 7-4 e sentíamos que o título estava muito próximo.”
Poucas semanas depois conseguimos os pontos que nos garantiram o primeiro campeonato dos Lobos, mas que todos sentíamos como o nosso terceiro título consecutivo. A juntar à festa, os Lobos séniores conseguiram o 2º lugar no campeonato da 2ª divisão.
Ao contrário dos outros dois anos, em 2010 foi disputada a Taça de Portugal Sub-16. O sorteio ditou que jogaríamos com Santo António na meia-final. Isto significava que o vencedor da meia-final seria também, provavelmente, o vencedor da taça. Foi pena que as duas melhores equipas sub-16 não se tenham defrontado na final, mas taça é taça e o sorteio assim o ditou. Sabíamos que eles estavam motivados para nos ganhar. Mas nós também estávamos motivados para juntar mais uma taça ao nosso palmarés. Entrámos muito fortes no jogo. No início da segunda parte cometemos erros que se tornaram num ascendente do jogo deles e vantagem no marcador diminuiu até à margem mínima. Mas perto do fim conseguimos ser mais fortes e garantir a passagem à final onde iríamos jogar com a Quinta do Pinheiro. O jogo da final foi fácil – vitória por 12-2 – e fizemos a dobradinha.
Esta final ia ser repetida no Super Challenge, onde jogaríamos em duas mãos também com a Quinta do Pinheiro. Éramos os favoritos e isso foi demonstrado em campo, apesar de uma má exibição no primeiro dia. Vitórias por 7-2 e 11-4, que nos deram o terceiro troféu da época. Uma época perfeita, só com vitórias, um Campeonato Nacional, uma Taça de Portugal e uma Super-Taça, que foi fruto de todo o trabalho desenvolvido desde Setembro de 2007. As jogadas, o estilo de jogo, o espírito de equipa, tudo vinha sendo trabalhado há mais de três anos.
Como escrevi no início, este último jogo marcou o adeus aos sub-16 do Bernardo, da Sara e da Mafalda. Fica o Ricardo para mais um ano, a quem se junta, para já, a Sofia, a Marta e o Joel.
Estes três anos podem ser resumidos em números: 26 vitórias, 1 empate, 238 golos marcados e 78 sofridos. 540 minutos de jogo e cerca de 15 mil minutos de treino. Mas não há estatística que traduza as alegrias, as frustrações, os nervos, os gritos e os sorrisos. Foram três anos fantásticos com um grupo de miúdos que deram tudo para mostrar o que valiam. Não podia pedir mais.
Sei que nunca me vou esquecer deles, seja qual for o caminho que cada um de nós escolha no futuro. Alguns continuam na equipa, agora nos séniores, o que me dá imenso prazer. Mas todos merecem, no final desta etapa, uma palavra de agradecimento.
À Carolina, ao Pedro, ao Tomás, à Bia, à Sofia, ao Diogo, à Susana, ao Leonardo, ao Bernardo, à Sara, à Mafalda e também ao Ricardo, o meu muito obrigado por todos os momentos que me proporcionaram durante estes três anos. E aos mais recentes Lobos – Sofia, Marta e Joel – peço que me proporcionem outros tantos. 🙂