Quando montei a empresa – já lá vão mais de 13 anos – tive de escolher um computador para trabalhar. Estávamos em setembro de 2003 e a Apple tinha lançado o Power Mac G5 uns meses antes. O timing não podia ter sido melhor.
… the best computer Apple has ever built!
A frase é familiar, certo? 🙂 Mas era um canhão. Rápido, com processamento para dar e vender e uma capacidade de expansão à antiga. Também experimentei utilizar um portátil como segundo computador, para quando estivesse fora do escritório. Na altura a dificuldade de acesso aos ficheiros de trabalho de forma remota (sobretudo pela velocidade da net), sincronização de emails, etc., acabou por limitar a sua utilidade.
Dava gosto trabalhar no G5. Até que, em 2005, a Apple inicia a transição para Intel, basicamente deixando os computadores PowerPC parados no tempo. O Power Mac G5 continuava a ter uma excelente capacidade de desempenho, mas o software ficava cada vez mais desactualizado.
Foi nessa altura – provavelmente em 2007 – que passei a utilizar um portátil como computador principal (e único). Os portáteis começavam a ser opção para trabalhos mais pesados e eram o melhor de dois mundos. Tinha um computador que levava para qualquer lado e que podia funcionar como um desktop quando estava no escritório. Bastava ligá-lo a um monitor, teclado e rato. Para trabalho remoto, o maior problema continuava a ser a velocidade da net. Mas chegava para as urgências. Com o passar dos anos o equipamento foi sendo actualizado, mas a configuração base continua a mesma.
Este MacBook Air foi a minha escolha perante um MacBook Pro de 13″. O Pro não justificava, na altura, a diferença de preço. Aliás, hoje só justifica porque o Air deixou de ser actualizado. Durante alguns anos esperei por um modelo de 13 polegadas com processador quad-core. Já desisti de esperar. Essa configuração nunca ficaria bem na escadinha de preços da Apple. Os modelos de 15 polegadas têm processadores mais rápidos e melhores gráficas. Mas o salto de preço é significativo e não deixamos de estar a pagar por um ecrã maior, mais bateria, etc., que não vão ser devidamente aproveitados. E a esse nível de preço aparecem outras opções…
Regressar aos desktop
Trabalhar com o Power Mac G5 deu-me um gozo do caraças. Nenhum portátil chega perto da experiência de utilização de um computador com processamento para dar e vender. Este é o problema dos portáteis: demasiados compromissos. Não me interpretem mal. Os novos MacBook Pro são máquinas fantásticas e os melhores portáteis do mercado. E a Touch Bar tem tudo para ser um sucesso. Mas, para o meu tipo de uso, seria apenas um custo extra. Por isso começo a pensar se não é melhor deixar-me de compromissos e voltar a utilizar um computador desktop.
Não falo do iMac. Sim, tem um ecrã fantástico. No entanto é mais um elemento que vai desvalorizar rapidamente e que tem de ser trocado com o computador. Um bom monitor dura, facilmente, uma década. E há o problema das falhas de hardware. É que se um componente falhar, vai-se o computador e o monitor, mesmo que o problema esteja apenas num deles.
O desenho do iMac também o torna ideal para trabalhos leves. O desempenho máximo é bom, mas o barulho das ventoinhas é excessivo quando se puxa por ele. Passar o dia a ouvir um computador a bufar não é agradável.
A opção que considero passa por um Mac Pro como computador principal (se a Apple lançar algo novo) e o portátil actual como opção de mobilidade.
A velocidade da net é, hoje, bem melhor. Consigo aceder ao disco de rede do escritório a partir de qualquer lugar, trabalhando directamente no disco ou copiando, rapidamente, os ficheiros que necessito. Já o faço hoje quando estou fora do escritório. Os emails, com IMAP e contas com espaço suficiente, podem estar configurados e sincronizados em qualquer dispositivo. Soluções como a Dropbox permitem sincronizar os documentos que tenha guardados localmente. E se não quiser confiar num serviço externo, posso fazer o mesmo utilizando as apps cloud da Synology. Até a solução da Apple, para sincronizar o desktop e a pasta de documentos, pode ser útil (confiar no iCloud é ser algo suicida, mas é para isso que existem os backups). O calendário é sincronizado pela net. O mesmo para as fotos. Pensando bem, hoje, o que torna o nosso computador no nosso computador? Os autocolantes?
Tenho pensado nas desvantagens de uma solução deste género e a única que encontro é ter um computador menos potente fora do escritório. Desde que tenha as aplicações que utilizo nos dois lados, e ambos os computadores configurados como gosto, posso trabalhar de igual forma em qualquer um. Mais lento no portátil, mas bastante mais rápido no desktop do que se optasse por um portátil topo de gama. Pode estar-me a escapar algo, mas não creio.
Há uns anos a passagem de desktop para portátil era óbvia, procurando-se um equilíbrio entre processamento e mobilidade. Hoje, com os serviços de cloud e sincronização, fará sentido fazermos esse compromisso? Porque não ter o melhor desempenho possível no escritório, juntando-lhe uma solução de mobilidade? Não será para todos, mas quem faz o grosso do “trabalho pesado” no escritório, parece-me ter muito a ganhar e pouco a perder.
digital hub (center of our universe) is moving from PC to cloud
– Steve Jobs