Quando era puto, ia para a escola de fato de treino (daqueles tipo pijama), usava ténis Sanjo – e de outras marcas portuguesas – e a maioria da roupa era comprada em lojas nacionais, que vendiam marcas nacionais.
Mesmo alguns brinquedos eram de marcas portuguesas como a Majora. Em casa tinha fruta portuguesa da época. A carne era nacional. O peixe era nacional. Os legumes eram nacionais. Bem, a despensa não era uma montra de produção nacional, mas até a maioria dos produtos de marcas estrangeiras eram fabricados cá.
Em resumo, muito do que se consumia era produto nacional. Isso significava que havia mais fábricas, mais empregos, mais geração de riqueza.
Hoje os putos vão para a escola de calças de marca. Ténis de marca. Tshirts de marca. Casacos de marca. Podem já não usar relógio, mas têm um telemóvel de topo. E tudo de marcas estrangeiras, com fabrico estrangeiro. Em casa a fruta é importada. Muita da carne é importada. Muito do peixe é de piscicultura e importado. Os brinquedos… será que têm alguma coisa de marca nacional? Mesmos os “restaurantes” são estrangeiros.
Ou seja, as fábricas estão lá fora. Os empregos estão lá fora. A riqueza é gerada lá fora (a conversa da emigração diz-vos alguma coisa?). O que nos sobra é o comércio (que já existia) e algumas empresas de representações. Ah, mas dizem que muitos produtos são mais baratos. Pois são, porque o custo de trabalho nos países de origem é menor. Mas como podemos querer um salário mínimo maior, enquanto continuamos a consumir produtos de sítios onde esse salário é menor? Pior, como podemos querer empregos se continuamos a consumir produtos feitos em postos de trabalho no estrangeiro?
No final, de quem é mesmo a culpa do desemprego? Vale a pena pensar nisto.