Já não chegava ter tratado o Papa como um bebé de 2 anos, agora temos a amostra de um Presidente que não tem coragem de assumir uma posição. Muito menos de levar uma nega de um conjunto de deputados. Se Cavaco Silva está tão em desacordo com a lei, sobretudo com a utilização do termo ‘casamento’ para definir as uniões entre pessoas do mesmo sexo, não há razão nenhuma para a ter promulgado. A justificação, por parte dos analistas, de que é a posição correcta em ano de eleições, só mostra que temos um Presidente fraco. Um Presidente que num ano tem uma atitude para no outro fazer algo diferente.
Não vou entrar na discussão sobre se o termo ‘casamento’ deve, ou não, ser usado neste caso. Se por um lado, como referiu Cavaco, o Reino Unido e a França não consideraram o termo, por outro a Espanha e a Suécia consideraram-no. Compreendo os argumentos dos dois lados. A questão é outra. Se o Sr. Silva não queria promulgar a lei por considerar que deveria ser usado outro termo que não ‘casamento’, então exercia o veto presidencial. Podia explicar as suas razões – como o fez. Podia mesmo assumir que, se os deputados não alterassem o texto da lei, esta seria obrigatoriamente promulgada. Mas ficaria sempre a possibilidade de uma alteração, de uma pequena rectificação. O povo, especialmente o que gosta tanto do Sr. Silva, saberia que ele luta pelos seus ideais até à última.
É possível que o Presidente soubesse que tal alteração nunca iria acontecer. Mas nós, os meros espectadores desta novela que é a política portuguesa, não temos acesso às TV Guias do poder para saber o que vai acontecer a seguir. Mesmo quando uma das personagens principais acaba por fazer futurologia em directo. Esta promulgação mostrou um Presidente fraco, que não está disponível para ganhar algumas cicatrizes de guerra. Que se resigna facilmente quando os seus interesses são outros. Eu, pela minha parte, dispenso este tipo de política e, sobretudo, esta classe de políticos.
Para que não fiquem dúvidas, sou a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Como fui a favor da liberalização do aborto. Como serei a favor quando estiverem em causa as liberdades e direitos individuais que apenas dizem respeito a quem está directamente envolvido.