Pouco passava da meia-noite quando os noticiários começaram com os directos sobre a “inaguração” da greve. Que estava a correr lindamente, que o metropolitano de Lisboa estava parado. Que a recolha de lixo em várias autarquias estava praticamente parada. E quando confrontado com o facto de vários piquetes terem bloqueado a saída de carros do lixo, o secretário geral da CGTP (Arménio Carlos, já agora) diz que não tem informação. O normal. Quando não interessa, não há informação. Depois lá diz que os piquetes “tentam sensibilizar” os trabalhadores a fazer greve e que “são capazes de fazer demorar a saída”, mas depois deixam. Foi o que se viu. É o que se vê em todas as greves. Aliás, as guerras com a PSP acontecem porque eles querem deixar os outros trabalhar.
Não tenho nada contra a greve. Até acho que deviam fazer mais vezes e com mais força. Se com o Sócrates até se faziam manifestações ao fim-de-semana, porquê os paninhos quentes com este Governo?
Mas, da mesma forma que existe o direito à greve, também existe o direito de não a fazer. Querem parar e protestar, força. Se há pressões e represálias sobre quem quer fazer greve, estas devem ser denunciadas e, sobretudo, punidas. Mas se outros querem continuar a trabalhar, ninguém tem o direito de os impedir. Nem de os tentar “sensibilizar” com pressões e guerra psicológica. Respeitem os outros se querem ser respeitados. Porque se acabam por recorrer às mesmas tácticas que os Governos, com pressões, dados falsos e meia-dúzia de bandeiras para encher o plano nas TVs, não vão longe. Aliás, não vamos longe.