Quando o iPad foi lançado, em Janeiro, vi nele um grande potencial. Não apenas em termos de aplicações e tarefas que poderiam passar a ser, de forma mais simples, feitas num iPad e não num portátil ou computador de secretária. Vi o potencial para alterar a forma como utilizo um computador fora do trabalho.

No escritório não há volta a dar. Preciso de uma estação de trabalho fixa, com teclado, rato e um monitor dedicado. Isto apesar de, neste momento, o centro dessa estação de trabalho ser um MacBook, mas que mais não faz do que alimentar o resto. Já em casa, levando o portátil comigo, o uso que dou ao computador é completamente distinto. Andar na web, ler os feeds, ver e enviar emails, escrever um ou outro texto – como este que está a ser escrito depois do jantar – aceder ao Facebook e Twitter, mantendo sempre o messenger ligado. O uso típico não foge muito disto. De vez em quando aproveita-se para despachar um ou outro trabalho ou até ver um filme ou episódio de uma série. Tudo isto pode ser feito num iPad.

Facebook e Twitter é óbvio, seja no browser, seja através de aplicações próprias. Web e email idem. Os feeds também têm aplicações dedicadas ou mesmo o Google Reader – que pode ser considerado uma web app, mas isso são outras discussões. Os textos, como este, poderão ser escritos num iPad. Se necessário, usando o teclado com doca, algo que pode ficar na secretária de casa para quando for preciso dar mais uso aos dedos. O iPad como leitor de vídeo é talvez das funcionalidades mais badaladas. Ora, ficam a faltar duas coisas: o messenger e o trabalho ocasional.

Se no caso do messenger, devido ao Facebook e Twitter, o uso que lhe dou já não é o mesmo – e se for muito necessário há aplicações que permitem o acesso a várias redes no iPad -, já o trabalho ocasional pode ser a funcionalidade mais difícil de substituir. Quando falo em trabalho não estou a falar em escrever um texto ou trabalhar numa folha de cálculo, algo que com o iWork acaba por poder ser feito com relativa facilidade se o objectivo não for um trabalho intensivo. Estou a falar de usar ferramentas de profissionais como o Photoshop e Illustrator. Ou mesmo despachar algum trabalho de webdesign. Apesar de se tratar de código que pode ser feito num simples editor de texto, fica a faltar a parte de visualizar os resultados do que estamos a fazer. Aqui pode haver um compromisso, que até acaba por limitar mais o local de trabalho, com alguns benefícios no tempo livre disponível. E para pequenas coisas há sempre a possibilidade de aceder, via remote desktop, ao computador do escritório.

Mas é quando se junta tudo isto, sobretudo numa utilização diária, que o iPad começa a mostrar as suas limitações actuais. A falta de multitasking – no sentido que damos à palavra quando pensamos num portátil, por exemplo – acabará, estou certo, por tornar a experiência algo limitada. Peguemos no exemplo deste texto. Estou a escrevê-lo, mas acabo de reparar que o Facebook Notifications tem algo de novo e, rapidamente, vou ver o que é, abro automaticamente a página respectiva do Facebook para ver em pormenor, para em poucos segundos estar de volta à escrita. Algo que no iPad não é assim tão fluído. O mesmo acontece com o Twitter, com o email, etc. Por mais rápido que o iPad seja a fechar e abrir uma nova aplicação, não é o mesmo que clicar no Facebook Notifications, abrir uma nova tab do browser para fechá-la quando já não é precisa e estar de volta à tarefa anterior. Falta-lhe talvez algo como as notificações ao estilo do Web OS da Palm.

É verdade que o iPhone OS 4 trará algum multitasking e uma simples barra de tarefas (pelo menos no iPhone), mas são processos que ficam a correr, não tanto as aplicações. Pode ser suficiente em alguns casos, mas é algo que prefiro esperar para ver como se irá comportar em situação de uso real. No iPhone tudo isto passa bem, até porque não o usamos como usamos um portátil durante horas seguidas. No iPad a conversa é outra.

Estas novas funcionalidades do sistema operativo dos iPhones e iPads vão obrigar os programadores a alterarem as suas aplicações. Se algumas terão suporte para as novidades desde o primeiro momento, outras só serão actualizadas mais tarde – basta olhar para a aplicação do Facebook para iPhone, que está parada há meses. Por outro lado, parece que o iPad só irá receber o novo sistema no Outono e não lá para Junho/Julho, data em que é esperado que saia o novo iPhone e seja disponibilizada a actualização do sistema. Talvez a Apple queira aproveitar o tempo extra para melhorar o multitasking num aparelho como o iPad, que acaba por ser bem diferente de um iPhone? A confirmarem-se estes dados, lá para o fim do ano volto a analisar a utilização de um iPad como ‘computador’ principal em casa.

Se juntarmos estas peças todas – e o facto do iPad ainda nem sequer estar disponível para encomenda em Portugal – estamos a falar de um aparelho anunciado em Janeiro, que estará disponível, com sorte, durante o mês de Junho, cujo novo sistema operativo só chega no Outono. E é provável que, poucos meses depois, chegue um novo modelo. Portanto, valerá a pena atirar-me já de cabeça? Ou será preferível esperar pela segunda versão do iPad em vez de ter, durante alguns meses, uma experiência limitada, embora uma boa experiência?

Não tenho dúvida de que o iPad é fantástico. Desde o momento em que Steve Jobs o apresentou que decidi que vou ter um. Mas, da mesma forma que não comprei o iPhone 3GS por considerar que a sua mais valia perante o iPhone 3G – que ainda tenho – não justificam o investimento, acho que prefiro continuar a usar apenas o MacBook, em vez de ter um iPad para umas coisas e o MacBook para outras. Já quando sair a nova versão, serei dos primeiros a fazer a encomenda.