Estava a ler o texto do John Gruber sobre o novo iPhone 4S (em inglês) e houve uma parte que me chamou a atenção. Sobretudo por ir de encontro a algo que tinha pensado no dia do lançamento, depois de ler alguns comentários menos satisfeitos.

A Apple não vai fazer um novo design apenas porque sim – eles fazem alterações se essas alterações tornarem os produtos melhores. Mais fino, mais robusto, mais eficiente. Se não tiverem um novo design que traga esses melhoramentos, vão manter o design que já têm.

Para mim este é um dos aspectos sobre a Apple que nem todos percebem. Sabemos que um dos ideais da empresa é que menos é mais. Tornar os produtos – logo o design – mais simples e eficientes é um dos objectivos da Apple. Já por diversas vezes ouvimos Steve Jobs ou Jony Ive dizer que se um elemento do design não traz nenhuma funcionalidade ao produto, então não está lá a fazer nada.

Esta é a visão da empresa que tem sido posta em prática há quase 15 anos, desde o lançamento do iMac original. Desde 1998 que as linhas de produtos Apple têm sofrido dois tipos de actualizações. Umas centradas quase exclusivamente nas características técnicas. Outras que alteram de forma mais radical o design do produto. Quaisquer destas mudanças tem um objectivo comum: tornar o produto melhor.

O que nos diz a história?
Voltemos ao iMac original. É um trabalho excelente em termos de design e engenharia. A forma como os componentes estavam colocados – até o facto de dispensar uma ventoinha – permitiu o design exterior. Mas olhando para trás vemos arestas que não foram totalmente limadas na primeira versão do iMac.

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A zona das portas USB, Ethernet, Modem, etc., tinham uma tampa que dificultava o acesso rápido. Se na altura ligar e desligar cabos não era muito comum, aos poucos começou a ser. O meu iMac Tangerine já não tinha essa tampa. No interior o acesso à memória também foi bastante melhorado. Lembro-me, se a memória não me atraiçoa, do Pedro Aniceto contar que cortou uma mão a demonstrar como era “fácil” aceder à memória do iMac original.

Aquela tampa foi retirada do design. Os melhoramentos nas capacidades de produção também foram permitindo limar outras arestas. A introdução de drives de slot tornaram o design ainda mais apelativo. No entanto o primeiro e último iMac G3 são semelhantes. Só o iMac G4 marcou uma mudança radical no design, com a introdução dos monitores LCD. Na altura todos esperavam um iMac mais ou menos semelhante aos que temos hoje. Mas como as drives de slot não funcionavam na vertical, foi preciso arranjar uma solução diferente, que passou por separar o ecrã do “cérebro” do iMac. Estávamos em 2002 e este design não durou muito, pois dois anos mais tarde, assim que a tecnologia o permitiu, a Apple lançou um novo iMac com o design que ainda hoje permanece: todos os componentes juntos, suspensos por um pé de alumínio. O design foi sendo melhorado. Mais fino, mais eficaz, com novos materiais. Mas o formato base manteve-se. Este é o formato que a Apple acha ser o mais eficaz para o iMac. Um formato que fez agora sete anos.

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Olhando para o Mac Pro vemos algo parecido. Este segue ainda o design introduzido pelo Power Mac G5. As diferenças aqui são mínimas, tanto no exterior como no interior. O Power Mac G5 foi apresentado em Junho de 2003. E este foi um apuramento das linhas do Power Mac G3/G4 aquando da passagem, como noutros produtos Apple, do plástico para o alumínio.

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Os MacBook têm vindo a refinar o design apresentado há mais de 10 anos, em Janeiro de 2001. Sim, têm ficado mais finos e mais robustos. Mas se olharmos para o PowerBook G4 original, vemos as semelhanças para os modelos actuais, sobretudo desde a introdução do modelo em alumínio, em 2003. É verdade que a introdução dos MacBook Unibody significaram um enorme avanço na robustez dos portáteis da Apple. Mas o design base manteve-se inalterado. “Apenas” se melhorou a sua forma de fabrico.

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Os iPod seguem a mesma linha. O iPod original foi lançado em 2001 e o seu design continua a ser usado no actual iPod Classic (disponível apesar de nem ter sido mencionado durante a última apresentação). Só o iPod nano e o Shuffle tiveram vários designs diferentes, até o clip ter sido introduzido no shuffle. Esse design veio também a servir de base ao nano e é hoje usado nos dois modelos. É um design tão optimizado que dificilmente sofrerá alterações radicais.

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O que nos traz de volta ao iPhone
O iPhone 3G melhorou o design original. Tornou-se mais pequeno, mais fino e mais leve, ao mesmo tempo que melhorava as capacidades de rede com a introdução do 3G. O iPhone 3G foi sobretudo um refinar do modelo original, tornando-o acessível mundialmente. Com o 3Gs a Apple já deu um salto em termos de performance e noutras características como a câmara, embora mantendo inalterado o exterior. Só com o iPhone 4 é introduzido um design consideravelmente diferente. Frente e traseira em vidro. Um chassis de alumínio a toda a volta e que serve também de antena. Este design permitiu um telefone mais fino mas ao mesmo tempo com mais espaço para a bateria. É a simplificação do iPhone original: um ecrã que ocupa grande parte do espaço, um botão “home” e os mesmos botões de topo e laterais (a patilha para tirar o som ao telefone é, para mim, das melhores inovações que o iPhone trouxe).

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Há espaço para melhorar este design? Acredito que sim. Fala-se num design que vai buscar inspiração ao MacBook Air, mais fino na base que no topo. Pode até existir em protótipo, mas será que vai ver a luz do dia quando o iPhone é usado tanto na vertical como na horizontal (onde esse formato se tornaria estranho na mão)? O design do iPhone está mais apurado que nunca e só vejo uma forma de se tornar ainda melhor: aproximar-se do formato do iPod Touch. No entanto isso alteraria as inovações introduzidas ao nível das antenas. Nada a que os engenheiros da Apple não consigam dar a volta, acredito. Talvez o iPhone 5 traga essa mudança.

Então porquê os comentários?
Muitos dos comentários de desapontamento com o design do iPhone 4S também se devem à forma como o mercado dos telemóveis funciona funcionava. Os fabricantes lançavam produtos com designs mais ou menos radicais, mais ou menos rectos, mais ou menos coloridos. Apenas para levar os consumidores a trocar de aparelhos, mesmo que estes tivessem as mesmas funcionalidades. Todos conhecemos alguém que trocava de telemóvel de 6 em 6 meses só para ter o último modelo, apesar de fazer exactamente o mesmo que o modelo anterior.

A Apple não funciona assim. Eles tentam fazer o melhor produto possível e vão depois tornando-o melhor. Qualquer novo modelo do iPhone tem alterações importantes face ao modelo anterior e é isso que leva os consumidores a querer ter o último modelo. Podem não trocar de uma geração para outra, mas quando decidirem fazê-lo será por darem valor ao que vão receber em troca e por saberem que é o melhor que a Apple lhes pode oferecer. Não apenas por ter mais uma risca ou uma cor diferente.